“Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!”


Data da Postagem: 25 de Dezembro de 2020

“Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!”

Queridos irmãos e irmãs, nós nos reunimos, nesta noite santa e iluminada, como comunidade de fé, de esperança e de caridade, como comunidade cristã. E nos reunimos para celebrar o santo Natal.

Mas outros povos, outras culturas, não cristãs, também celebram o Natal. Eles também enfeitam suas casas, se reúnem, trocam presentes, comem coisas gostosas, tradicionais, criam novas receitas, mandam mensagens de WhatsApp com feliz natal, fazem self todos juntos e postam fotos no insta e, por vezes, recordam os natais passados, pessoas que já partiram, momentos de suas vidas. Assim, alguns deles celebram o natal. E também alguns de nós corremos o risco de somente assim o celebrar.

Mas, e nós? Nós temos um desafio maior, de manter viva “a mais íntima de nossas festas” religiosa. Nesta noite nos reunimos para celebrar “a hora na qual Deus entrou na história humana e mostrou o seu rosto pela primeira vez... há 2020 anos”. (Dom Georg Gänswein).

E como isso se deu? O médio e evangelista São Lucas se encarrega de pintar tão precioso momento: ele nos situa no tempo, em um tempo concreto, para lembrar que não se trata de uma lenda, mas de um evento salvifico, e que a partir desse momento toda a história humana é abraçada, envolvida, cercada pela glória do Senhor. É em Belém, periferia do Império Romano, que Deus nasceu em um recém-nascido. Mostrando-nos que Deus entra na história, não pela imposição, pela força das armas, mas pela ternura e pelo amor. Por isso, é noite de luz! É noite de amor! Deus entra para não sair mais das nossas vidas.

E por que entra?

“O povo que andava nas trevas, viu uma luz”

Na primeira leitura, o profeta fala de um tempo e de uma esperança. Estamos no século VIII a.C. O rei Ezequias desdenha das profecias do profeta, o considera atrasado, e mais, um empecilho para uma frutuosa aliança com a Assíria. O rei Ezequias está cego pelo poder, e por isso está nas trevas: coloca sua confiança e esperança nos homens, e vira as costas para a Luz, para Deus. O povo pagará pesado as alianças desastrosas de seu rei, e aquilo que parecia libertador, o escraviza agora. A esperança é roubada, e não se tem expectativa para um amanhã. O amanhã é incerto: habitar e andar nas trevas, na sombra da morte, é a falta de esperança. Os reis provaram que não são capazes de conduzir seus povos. No entanto, em meio a esse cenário desolador, o profeta Isaías, começa a sonhar com um novo tempo, uma nova época: sem guerra, sem fome, sem armas, onde reina a justiça, o direito e o temor de Deus. E esse sonho irá alimentar a esperança messiânica: um descendente de Davi trará a paz e a felicidade para o Povo de Deus. Mas não qualquer descente, senão o Emanuel, ou seja, Deus mesmo.

Quanto a aprender com este texto! Desesperanças, incertezas, alianças fracassadas, falta de expectativas... Um Deus que nunca abandona o seu povo. O Menino é a luz, que acende em nós a esperança. O papa, e hoje São João Paulo II, recordava que “o Cristianismo é uma pessoa, uma presença, um rosto: Jesus Cristo... É o fundamento da nossa fé”. Aqueles que negam a intervenção de Deus hoje na história, dizendo que o mundo está ao destino dos homens e das mulheres, e que Deus fez o mundo e que não intervém mais na história, deixando-o nas mãos dos homens e das mulheres, negam a encarnação do Verbo. Esta solenidade fala-nos de um Deus que ama os homens, e, por isso, não os deixa perdidos, vagando nas trevas, envia-os um Menino “para lhes apresentar uma proposta de vida e de liberdade”. Esse Menino será ‘a luz’ para o povo que andava nas trevas”.

O nascimento do Menino Deus nos ilumina e provoca em nós uma nova conduta. A vida em Deus exige uma nova conduta, como escreve São Paulo a Tito, a chamar a atenção dos cristãos que tinham perdido o entusiasmo, estavam vivendo uma fé morna. Esta conduta é extremamente importante para a implantação da cultura do amor, pois até que Ele venha, aqui, somos o seu rastro, afim de que outros possam descobri-Lo e segui-Lo. Fora da dinâmica do Senhor, o tempo rouba o entusiasmo e petrifica os corações, suga as forças do corpo e deixa a alma tíbia. A razão para continuar com a conduta cristã, não está no tempo, mas em Deus: Deus é amor, e no seu amor, entrou no mundo para redimi-lo e salvá-lo, e no fim dos tempos, Ele vem uma segundo vez.

Queridos irmãos e irmãs, esta celebração não nos tira do tempo, da história, tão pouco nos quer tornar míopes. Ao contrário, este evento salvífico, que se perpetua nos séculos, é luz que nos ilumina e aponta o caminho. Nos ilumina e nos convida a olhar mais de perto o Menino que nasceu e é adorado pela mãe e pelo pai adotivo, junto aos animais, abraçado por palhas, tendo como testemunhas os desprezados. Nos ajuda a olhar e ouvir o que Ele está nos dizendo, no presente, hoje. Somos convidados a refletir o por que Ele veio, como Ele veio e qual a nossa missão neste projeto de Deus. Somos convidados a vencer toda espécie de pecado, que é treva, que nos afasta do outro, de nós mesmos e do Senhor. Jamais dar-nos por satisfeitos enquanto lá fora, nas grutas das muitas Belens, há milhares de abortos, há mesas sem pães, há trabalhadores sem justos salários, há violência doméstica, há pessoas descartáveis, há uma realidade maquiada de falsa igualdade e oportunidade, há ruas manchadas de sangue pelo crime do tráfico, sem os nossos jovens porque jazem agora na terra do silêncio. Jamais dar-nos por satisfeitos enquanto murros são construídos, pessoas são armadas, presídios são construídos, o natural é explorado de forma maléfica e destruído. Jamais dar-nos por satisfeitos quando há ódio, há magoa, há violência, há traição, há corrupção, há luxúria, há inveja, há falsidade, há pessoas desintegradas, que sempre buscam álibis para justificarem seus fracassos. Jamais dar-nos por satisfeitos porque achamos que tudo vai bem em nossa vida.

Esta noite nos propõe um convite: irmos à Belém, não tenhamos medo, vamos a Casa do pão, porque lá, junto aos animais, na pobreza e na simplicidade, junto as pessoas rudes e malvistas, nasceu, para nós, o Salvador, o Messias, o Senhor. Ir a Belém, nesta noite, é renovar o nosso sim ao Deus que continua nascendo em nossas vidas. Vamos a Belém, aqui é Belém, aqui experimentamos a noite feliz, vemos o Autor da paz, dormindo em paz. Vamos a Belém, para termos forças para irmos às Beléns existenciais. Cantemos, adorando-O.

Feliz, iluminado e santo Natal a todos.

Pe. Reginaldo Teruel Anselmo - Pároco.