Mãe, já é hora de montar nosso presépio?


Data da Postagem: 17 de Novembro de 2021

Sem sombras de dúvidas, dezembro é um mês muito especial: pra nós cristãos é o mês em que celebramos o nascimento do Salvador. É também tempo de lembranças, de histórias, de viagens, de estar mais próximo da família, de parentes, de amigos, de presentes, de casa cheia, de expectativas, de férias. Coisa boa são as férias, não é mesmo?

E para viver ainda melhor este grande tempo em que nos preparamos para esta grande festa, podemos contar com muitos elementos catequéticos, que alimentam e fundamentam nossa fé: canções, novenas, ceias, e em especial o sagrado presépio.

Trago presente na memória o tempo de férias do seminário, em que ia à casa de minha irmã e junto com os sobrinhos montávamos o presépio contando a história, dando os nomes e importância a cada peça. Tempo bom era aquele! Uma outra lembrança que trago viva nas boas memórias da minha história era quando, pequenino, chegado o tempo do Natal, íamos a Mandaguaçu para ver um presépio mecanizado. Nossa, era o máximo ver tudo aquilo! Andávamos a pé uns bons quilômetros, que certamente eram recompensados. Outros vão se recordar ainda dos presépios montados nas vitrines das grandes lojas da cidade. Um mais lindo que o outro. Até hoje, dou uma passadinha na Catedral para rezar diante do presépio e para contemplar aquela cena maravilhosa.

Pois bem, para extrairmos com mais propriedade o sentido do presépio se faz necessário alguns passos, uma vez que não é difícil, nos dias de hoje, esquecer o verdadeiro espírito do Natal.

O porquê de se montar um presépio?

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”. É assim que nós lemos no livro do profeta Isaías. O presépio representa a cena maravilhosa do nascimento do menino Jesus e tudo o que está ao seu redor, fundamentado, particularmente no evangelista Lucas que conta detalhadamente o nascimento de Jesus. Logo, tem uma fundamentação bíblica, o que significa que ao montá-lo estamos lendo, de maneira diferente, o sagrado Evangelho. Cena tão simples que nos coloca no cenário da simplicidade, no cotidiano de um casal e de toda a terra. Enquanto que nas cidades, abarrotadas, aconteciam o recenseamento, os pastores nos campos cuidavam de seus rebanhos. O frio era intenso e os dias eram curtos. Naquela noite simples, Belém – que significa a casa do pão – viu uma luz sem ocaso. Ela tornou-se a extensão do céu, mas ao mesmo tempo, a síntese de toda a Criação. Como rezamos na noite do dia 24: “noite da troca de presentes com o céu, onde damos nossa humanidade para o céu e recebemos dele nossa divindade”. Na simplicidade, entres as palhas e o cheiro dos animais, com outras pessoas simples, numa manjedoura, foi assim que Ele, Deus mesmo, habitou entre nós, e fez a sua glória resplandecer. Uma luz brilha. Um filho nos foi dado! O dia em que brilhou para toda a humanidade aquela Luz que não conhece ocaso. E vamos cantar neste tempo: “porque o Senhor será sua luz, óh! povo que Deus conduz”.

E vai ser com este sentido simples, que através da singeleza do presépio vamos representar a cena do nascimento de Jesus, buscando resgatar e transmitir o verdadeiro sentido deste tempo, bem como despertando em nossas mentes e corações a mensagem que Deus nos revela: a simplicidade e a humildade do nosso Deus.

Como começou e quem foi o primeiro a montar um presépio?

Historicamente sua tradição tem origem com o jovem e encantador Francisco de Assis, que também optou pela simplicidade da vida, percebendo na beleza da criação os traços divinos. Era um jovem muito criativo e resolveu, com a proximidade do Natal de 1223 celebrar de uma maneira nova esta data memorável.

Como Francisco desejava representar o máximo possível esta linda cena, após autorização do Papa, escolheu um bosque próximo a Greccio, porque ali havia uma gruta. Seu desejo era ver com os olhos do corpo como a irmã pobreza acolhera o maior de todos os Reis. Ali está a manjedoura, o boi e o asno. Naquela noite gelada, as tochas de todos quantos acorriam para lá em procissão ajudavam a iluminá-la. Os sinos do vale eram como que a voz de Deus convocando para a grande festa. De todos os cantos, casas, castelos, dos lugares mais distantes, as pessoas não foram sequestradas pela noite fria ou por suas ocupações, ainda que meio curiosas foram estar com Francisco e com aquele que marcaria para sempre a história católica: o presépio. Naquela noite, Greccio tornou-se uma nova Belém, e honrou a forma simples que Deus escolheu para habitar entre os seus. Todos cantavam e se alegravam, estavam alimentados. Durante a santa missa, todos participaram com o coração simples do grande e maior de todos os mistérios que se celebra na santa missa. Para Francisco, “o Menino está realmente presente. Seus braços o apertam, seus olhos o veem, seu coração se inunda de amor e gratidão...”. Desde então São Francisco é considerado o patrono universal do presépio.

Como esta história continuou e chegou ao nosso País?

O jovem Francisco morre dois anos após este feito, e os seus frades continuaram o salutar costume. Esta tradição foi crescendo cada vez mais, e no século XVIII as famílias de toda Europa já montavam seus presépios, que em seguida se expandiu para outras regiões do mundo. Com a mesma intenção franciscana, as famílias montavam seus presépios para explicar a todos de uma forma muito simples o significado e como foi o nascimento do Salvador. E aqui no nosso país o primeiro presépio foi apresentado em 1552 pelos portugueses aos índios e colonos. “E se, passados tantos séculos, o presépio continua sendo, depois da missa, a celebração mais digna do Natal, é porque um gênio de poeta e santidade o imaginou para, de modo bem plástico e didático, continuar fazendo os homens relembrarem o supremo gesto de amor do Filho de Deus”.

Qual é a melhor época de montar o presépio?

Toda vez que nós meditamos no santo terço os mistérios gozosos, meditamos as cenas da infância de Jesus, logo também o seu nascimento. Porém, temos um tempo certo sim para montarmos nosso presépio. O calendário litúrgico nos ajuda a entender melhor. Diferente do ano civil, que conclui seu ciclo no dia 31 de dezembro, o calendário litúrgico conclui seu ciclo na festa de Cristo Rei. É ali que encerramos uma caminhada. E este ano cai no dia 21 de novembro. E a partir desta data, com o primeiro domingo do advento, 28 de novembro, nós nos preparamos para bem celebrar a festa do santo Natal (advento significa espera). Por isto é importante respeitar as fases para bem vivê-las.

Como montar um presépio?

De acordo com o padre Gustavo Haas, assessor de liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a árvore deve começar a ser montada no Primeiro Domingo do Tempo do Advento, quando se inicia o tempo do advento para a Igreja. Vale lembrar ainda que a árvore não deve ser montada toda de uma vez: o ideal é acrescentar enfeites e adereços aos poucos, durante as quatro semanas do advento, que é, para os católicos, tempo de preparação. “Durante o Natal, no Hemisfério Norte, todas as árvores perdem as folhas, com exceção do pinheiro. Por isso, essa árvore se tornou

símbolo da vida, celebrado no Natal com o nascimento do menino Jesus”, diz Haas. A montagem do presépio, deve seguir a mesma linha da preparação da árvore de natal. “Aos poucos, pode-se começar a montar a gruta, colocar os animais e os pastores, mas Maria, José e o menino Jesus devem fazer parte do presépio apenas mais próximo do Natal”, diz Haas. Envolver mais pessoas na sua montagem, garante também o seu sentido universal. Como falamos de uma tradição, é importante não perder o seu sentido, ou seja, organizado por São Francisco, para levar com facilidade as pessoas a contemplar e meditar a partir da mensagem do evangelho o nascimento pobre e simples do nosso Deus, que veio para ser irmão de todos e harmonizar todo o cosmos. Por isto que cada figura encontra no presépio o seu conteúdo evangelizador. Assim, é importante explicitá-las, captá-las e vivenciá-las:

1. O menino Jesus: é a peça principal do presépio, pois retrata a imagem do filho de Deus, o salvador de toda a humanidade, por isto vem colocado ao centro;

2. Maria: a cheia da graça; é a virgem visitada e escolhida por Deus. Aquela que respondeu prontamente e que guardava tudo em seu coração. Do seu ventre, nos veio o Salvador por obra do Espírito Santo. Coração doce, simples e acolhedor;

3. José: a própria palavra diz dele: o justo. Também foi visitado e escolhido por Deus para ser o grande cuidador da Mãe e do Filho. É o pai adotivo do Menino Jesus; foi um homem judeu, conhecido como carpinteiro de profissão, o homem capaz de ouvir a voz de Deus;

4. Os pastores: são homens simples do campo, que simbolizam a simplicidade do povo, já que Deus acolhe a todos sem se importar com sua condição social. Representam ainda o povo hebreu. Os simples que foram capazes de ouvir, acolher e buscar o Salvador;

5. Os reis magos: os sábios e os cultos, pessoas a escuta, em busca, que sabem ler os sinais dos tempos, saem de si para encontrar os outros, leem no outro a presença de Deus; os três Reis Magos - Gaspar, Baltasar e Belchior - representam os povos pagãos. Estes três nomes simbolizam as raças distintas, representando a universalidade da Salvação. Eles vieram do Oriente, conduzidos pela estrela, trazendo presentes: o ouro representava a realeza, a mirra era símbolo da paixão e o incenso é oferecido a Deus e representa a divindade de Jesus.

6. Os animais, o feno, a gruta: a natureza toda a serviço do homem e de Deus. Um burro, um boi, o galo e as ovelhas: os animais representam a simplicidade do local onde Jesus nasceu. O boi representa a bondade e a força pacífica e ainda o povo hebreu e o sacrifício; o burro, a humildade e os pagãos; o galo anuncia a chegada de Jesus numa boa nova; já as ovelhas lembram que Jesus veio ao mundo sacrificar-se por nós.

7. A Estrela de Belém: é aquela que se coloca no alto da árvore de Natal. Foi ela que guiou os três Reis Magos quando Jesus Cristo nasceu.

8. Os anjos: mensageiros de Deus, comunicadores da Boa Notícia. Os anjos anunciam aos pastores a chegada do filho de Deus. Eles sabem que nasceu o Salvador.

9. Manjedoura: É um lugar de aconchego onde Jesus ficou quando nasceu.

Se o seu presépio for novo, não se esqueça de convidar o padre para abençoá-lo, ou levá-lo à Igreja para que o padre o abençoe, pois não é só um presépio, mas o sagrado presépio. E por isto mesmo, ao passo que o mesmo quando for sendo montado (se assim a família o preferir, isto é, montá-lo por etapas, a cada uma delas reúna a família ou o grupo de novena para rezar diante dele. E na noite santa, na bela santa noite do Natal, após a Santa Missa, contemplem o maior presente que a humanidade ganhou do seu Criador: Jesus. E ali, no silêncio e na simplicidade criativa do presépio familiar, peça ao Senhor a dádiva de acolhê-Lo todos os dias, como a Luz que guia a família.

Quando é hora de desmontar o presépio?

A data certa, e se possível desmonte neste dia, pois faz parte da tradição, é o dia do Batismo de Jesus, quando se encerra o tempo do Natal. Por se tratar de uma data móvel, este ano será no dia 09 de janeiro. Alguns também optam por desmontá-lo depois da Epifania ou conhecida como Dia dos Reis.

Outro detalhe: os resíduos do Presépio, que não serão reaproveitados devem ser descartados de forma digna, ou queimados, para não serem jogados no lixo ou abandonados.

Irmãos e irmãs, as palavras de paz e serenidade de São Francisco trazem até nós o sentido verdadeiro do Natal: "Todos os homens nascem iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final", e ainda, "No presépio se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade". Na pobreza do presépio, meditemos sobre o mistério da encarnação, buscando nos encontrar com o verdadeiro Deus que se faz humilde para nos ensinar que a maior riqueza não está naquilo que se tem, e sim naquilo que se é.

Pe. Reginaldo Teruel Anselmo