A Família Luigi Goretti e Assunta Carlini eram dois jovens lavradores analfabetos, que moravam nas imediações de Corinaldo (a 4h de Roma), província de Ancona, junto ao Mar Adriático, na Itália, no final do século passado. Casaram-se em 1887 e tiveram seis filhos: Ângelo (1888), Maria Teresa (1890), Mariano (1893), Alexandre (1895) Ercília (1898) e Teresa (1900). Muito pobres, viveram a típica situação de migrantes, indo de um lugar para outro em busca de emprego, que lhes assegurasse o sustento da numerosa família, De Corinaldo mudam para Colle Gianturco, perto de Galiano (1896) e, logo depois, Ferriere di Conca, a 11,5 km de Nettuno, na chamada Campanha Romana, onde se tornaram empregados do conde Atílio Mazzoleni, juntamente com o viúvo João Serenelli e seu filho Alexandre. Na propriedade só há uma casa, mas bastante grande.
Concordaram em reparti-la, ficando os cuidados domésticos sobe a responsabilidade de Assunta, única mulher adulta. vAcometido de malária e tifo, agravados depois por meningite. Luigi vem a falecer no dia 6 de maio de 1900. Seu último pedido é que, após a sua morte, a esposa volte com os filhos para Corinaldo. Viúva, com seis filhos pequenos, Assunta enfrenta corajosamente o trabalho agrícola. Maria Teresa, com dez anos incompletos, assume, como pede, as tarefas de dona de casa. Os meninos ajudam a mãe no trabalho da lavoura.
Marieta
Nascida a de 16 de outubro de 1890, Maria Teresa, carinhosamente chamada de “Marieta”, sempre foi especial. É de sua mãe a observação: “Não era vaidosa. Não ambicionava vestidos novos ou diferentes. Aceitava prontamente tudo quanto eu determinava... Jamais notei em Maria um defeito. Se as vezes eu ralhava com ela, era tão somente porque as grandes preocupações me punham nervosa; fazia-o sem que ela merecesse, e até hoje me censuro... Ela não respondia e continuava a sua tarefa sem ficar sentida comigo.” Batizada no mesmo dia do seu nascimento, Marieta recebeu das mãos de Dom Júlio Boschi, Bispo de Senigallia (a 19 km de Corinaldo) o sacramento da Crisma, no dia 4 de outubro de 1896. A 1ª Eucaristia ela a recebe em Conca, hoje Borgo Montello, no dia 29 de maio de 1902. A catequese que a preparou demonstra a fibra da garota analfabeta e pobre. Por um ano, todas as semanas, ela vai de Ferriere a Conca (mais de 3 km), para as lições de dona Elvira, roupeira da casa dos Mazzoleni. Vestido, véu e sapatos são oferecidos pelos vizinhos. Esse dia marca santa menina com a decisão que norteará sua vida: Antes morrer, que pecar. Depois disso, só 4 vezes Marieta recebeu a comunhão eucarística: no Santuário de Nossa Senhora das Graças (em Nettuno), na igrejinha de Conca (Páscoa de 1902), na igreja de Campomorto (aldeia vizinha) e no leito de morte (no hospital de Nettuno).
O Martírio
Bastante desenvolvida para sua idade, apesar de sua modéstia, Marieta não passava despercebida aos olhares masculinos. Dela registra-se a descrição: “As grandes pálpebras sempre abertas, a velar modestamente o olhar vivo, destacavam-se nas cores suaves de um rosto encantador... Fartos cabelos acentuavam-lhe a formosura. De harmonioso desenvolvimento e graciosa elegância, era já aos 11 anos uma flor por todos admirada”. Após a morte do pai, estampava-lhe o semblante um ar de doce e permanente tristeza. Vivendo na mesma casa, Alexandre Serenelli, 20 anos, taciturno e viciado em leituras pornográficas (estudara até o 2º ano primário e trabalhava como marinheiro) há tempo vinha tentando forçá-la a entregar-se aos seus desejos. Revoltado diante da recusa da menina, ameaçara matá-la, se ela contasse a alguém o assédio que lhe movia. Dia 5 de julho de 1902, um sábado á tarde, todos se ocupavam, no terreiro, com o trabalho de bater as favas secas da safra. Em casa, Teresinha (dois anos e meio), dormindo e, a seu lado, Marieta, no alto da escada, sentada, remendando uma camisa que Alexandre, antes, tinha-lhe pedido que consertasse. João, pai do rapaz, atacado de malária, deixa o trabalho e vem sentar-se ao pé da escada. Alexandre avisa Assunta que vai até a casa e passa-lhe a condução do carro de bois que dirigia. Sobe a escada e chama para dentro a menina. Ela não atende. Arrasta-a à força e quer forçá-la a uma relação sexual. Para calar seus gritos, o rapaz tapa-lhe a boca com um lenço. Cego pela paixão e irritado com a resistência da menina, apanha um ferro, espécie de punhal que tinha preparado, e golpeia-lhe o corpo 8 vezes. Julgando-a morta, deixa-a. Ela arrasta-se até a escada e tenta gritar por socorro. Ele volta a atacá-la com 6 golpes. Depois tranca-se no quarto. Na luta desigual, a recusa da santa menina só tinha uma justificativa: “Não, Alexandre, é pecado. Não faça isso. Você vai para o inferno”.Socorrida pelos que atenderam aos gritos assustados da caçula. Marieta explica à mãe: “Alexandre queria fazer-me cometer um pecado feio e eu não quis”. O médico da aldeia nada pode fazer. Recomenda imediata remoção ao hospital de Nettuno. A ambulância (carroção puxado por cavalos) leva 2 horas para percorrer o trajeto. A cirurgia, sem anestesia, dura outras 2 angustiantes horas. São 14 ferimentos graves e contusões. Foram atingidos: coração, pulmão e intestinos. No quarto humilde, sufocada pela febre e pelo calor do verão italiano, implora por água. Mas há proibição médica. Serão 24 horas de sede até a sua morte. Como o Cristo na cruz. No dia seguinte, atendida por monsenhor Temístocles Signori, que passara a noite à sua cabeceira, perdoa o assassino, recebe a unção dos enfermos e o Cristo eucarístico no sagrado viático. Pede perdão à mãe e, em delírio, tenta defender-se de Alexandre. Depois começa a rezar o Pai nosso. Chega até livrai-nos do mal. O Amém reza-o no céu, junto Aquele cuja vontade cumprirá à custa da própria vida. Eram 15:45h do dia 6 de julho de 1902. Maria tinha 11 anos, 8 meses e 21 dias.
A Glória
Nenhum luto em Nettuno, na radiosa manhã do seu sepultamento, dia 8. Comércio e indústria cerram as portas. Flores e colchas coloridas nas janelas, balcões e telhados falam do clima de festa que invade o coração das pessoas em seus trajes domingueiros. As mães carregam na mão um lírio, símbolo da virtude da menina mártir. A 28 de junho de 1929, a urna com seus restos mortais, doados pela mãe, é transferida para o santuário de Nossa Senhora das Graças, padroeira da cidade. A 27 de abril de 1947, Pio XII (o Papa que criou a diocese de Maringá) proclama-a bem-aventurada e, três anos depois, durante o ano santo de 1950, dia 24 de junho, o mesmo papa, ao proceder à sua canonização, vê-se forçado a fazer a cerimônia em praça pública. A Basílica de São Pedro, maior igreja do mundo, não comporta as 250.000 pessoas que ali compareceram. Pela primeira vez na história, uma canonização se faz na Praça de São Pedro. Outro fato único acontece depois: a multidão que rezava e cantava, de repente, emudece num silêncio que paralisa o mundo. Ao lado do Papa, surge uma frágil velhinha de cabelos brancos. È Assunta Carlini Goretti, presente, aos 85 anos, à glorificação da filha, que já não é sua, mas de todo o povo de Deus. São de Pio XII nesse dia as palavras: “Por amoroso desígnio da Divina Providência, a suprema exaltação de uma filha do povo foi celebrada (...) com uma solenidade sem paralelo e de forma até agora única nos anais da Igreja. Foi celebrada na amplitude e majestade deste lugar de mistério, convertido em templo sagrado (...), um templo como que exigido pelo deslumbrante brilho e arrebatadora fragrância deste lírio de púrpura, cujo nome nós inscreveremos com íntima alegria no álbum dos santos: a doce e pequena mártir Maria Goretti”. Assunta faleceu a 8 de outubro de 1954.
Alexandre
Após a agressão, Alexandre é preso em seu quarto. Os vizinhos, reunidos pela notícia rapidamente espalhada, querem linchá-lo. Sob escolta policial, é levado a Nettuno. Dos 30 anos de pena de prisão, cumpre quase 27. Arrependido, é libertado por bom comportamento a 7 de março de 1929.
Na véspera do Natal de 1937, um envelhecido Alexandre de 55 anos bate à porta de Assunta, em Corinaldo para onde voltara, conforme o desejo do marido agonizante. Vem pedir-lhe perdão. “O Senhor o perdoou”, diz-lhe a septuagenária viúva, “ Perdoou-o minha filha.
Como não hei de perdoá-lo eu?”Na missa do Natal, dia seguinte, recebem juntos a comunhão eucarística. Alexandre recolheu-se, como jardineiro, ao convento dos capuchinhos, em Ascoli Piceno, tornando-se, mais tarde, membro da Ordem Terceira de São Francisco.
Oração a Santa Maria Goretti
Oh! Santa Maria Goretti, que, reforçada pela graça de Deus, não hesitou, mesmo na idade de onze para lançar teu sangue e sacrifício da própria vida para defender a tua pureza virginal, olhai graciosamente sobre a infeliz raça humana, que se desvia muito longe do caminho da eterna salvação. Ensina-nos a todos, e especialmente a juventude, com coragem e presteza que devíamos fugir por amor de Jesus de tudo o que possa ofender ou manchar as nossas almas com o pecado. Obtenha para nós a partir de nosso Senhor vitória na tentação, conforto nas tristezas da vida, e a graça que fervorosamente imploro-te (insira aqui intenção), e possamos desfrutar um dia da imperecível glória do céu. Amém.