Igreja: um projeto humano ou Divino?


Data da Postagem: 30 de Julho de 2023

Igreja: um projeto humano ou Divino?

Animador: No texto que será proclamado, aparece Gamaliel, um personagem de grande significado, no início dos testemunhos dos Apóstolos após o Pentecostes. Ele era fariseu, mestre da lei e estimado. Os apóstolos estavam presos e sendo julgados pelo sinédrio. Pedro teve a coragem de dizer, juntamente com os outros apóstolos: ... “é preciso obedecer antes a Deus, do que aos homens” ...

Ouçamos com atenção o discernimento que é proposto.


A Palavra nos faz comunidade


Leitor: Leitura dos Atos dos Apóstolos (5,12-42)


Leitor 1: Olhando Gamaliel, mesmo sendo um fariseu que valorizava a tradição, o rigor e a lei, este não demostrava ser um homem de respostas prontas, deixando-se levar por polêmica. Era prudente, sábio, sensato, homem de diálogo e de serena reflexão. Foi um instrumento de Deus para libertar inocentes, com base na justiça e na sábia argumentação.

Leitor 2: Gamaliel tinha o dom de fazer uma sábia leitura da história passada, deixando-se iluminar por ela. Ele não se deixava levar pelo efeito manada, que significa seguir e correr na mesma direção de modo impulsivo, desordenado e acrítico, influenciado por pessoas intolerantes e autoritárias, incapazes de dialogar. Diz Dom Francisco Biazim:

 Todos: “Manipular pessoas é diabólico, é ferir a dignidade humana, é menosprezar a sua capacidade de discernimento e decisão. É coisificar o indivíduo”.

Leitor 3: Diferente daquele quadro desastroso, Gamaliel utilizou o princípio da dúvida sadia, da busca que gera prudência e não dá certeza absoluta de estar em posse da verdade:

“quanto o que está acontecendo agora, dou-vos um conselho, não vos preocupeis com esses homens e deixai-os ir embora porque se este projeto ou esta atividade é de origem humana será destruído, mas se vem de Deus, vós não conseguireis eliminá-los. Cuidado, para não vos pordes em luta contra Deus”, afirmou Gamaliel.

Todos: Que palavras sábias e inspiradas. É tudo o que se espera em situações de tensão, incerteza e injustiça. Como é importante a presença de alguém de bom senso num conselho, num governo, numa família em todos os momentos de tensões e conflitos.

Leitor 4: Mas, o que esse texto nos ajuda, neste encontro de hoje? Muito. A certeza de Gamaliel se confirma. A Igreja não é um projeto ou atividade de origem humana.

Todos: A Igreja vem de Deus. Nasce do lado aberto de Cristo na cruz e se confirma em Pentecostes. A Igreja prossegue e nós prosseguimos com ela e nela.


Igreja: Assembleia convocada pelo Senhor


Animador: Quando os mais de 2 mil bispos estavam reunidos em Concílio, o papa Paulo VI propôs três perguntas: O que é a Igreja? Qual a sua missão? Qual o destino da Igreja?

Leitor 1: Busquemos a etimologia da palavra Igreja, ????????. Trata-se de um verbo grego que significa assembleia convocada. Para os gregos ???????? era usada para exprimir a convocação dos cidadãos de uma cidade (só os homens), com poder de decisão sobre qualquer coisa (democrática). Um verbo que espera uma resposta à convocação, e que não era só para estar junto, mas para decisão.

Leitor 3: Em contexto bíblico, Antigo Testamento, ???????? é o termo usado para a assembleia do povo eleito diante de Deus, sobretudo para a assembleia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus como seu povo santo (cf. Ex 19). Qahal será traduzido como assembleia do povo, isto é, diferente do uso greco-profano, não significa uma assembleia formada por sua própria iniciativa e poder, mas o povo da aliança, Israel, reunido e congregado pela graciosa escolha de Deus (cf. Jz 20,2). É uma assembleia composta por todos, homens, mulheres e crianças, pois se trata de uma assembleia de Israel reunida para escutar a palavra de Deus (cf. Dt 33).

Leitor 4: Já em terreno cristão, a comunidade vai ser chamada de ???????? porque é a assembleia convocada pelo Senhor, por sua Palavra, para reunir-se e celebrar a Eucaristia (cf. Catecismo da Igreja Católica, 751). Para o Papa Bento XVI, “é sempre o Senhor que, no seu único sacrifício, reúne a si o seu único povo”.

Leitor 5: Também para os cristãos a convocação não vem da parte humana, mas de Deus, que aguarda uma resposta humana. É a assembleia dos apóstolos convocada em vista de algo maior, isto é, para esperar o Esposo que vem. É uma comunidade escatológica, Maran atha (cf. 1Cor 16,22). Assim rezamos nas Santas Missas: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. 

Leitor 2: A Igreja é uma realidade dinâmica e sempre aberta: tem origem, é a assembleia convocada, tem uma missão, o ide, o fazer crescer a esperança nos corações, e tende a um destino, a Parusia, o Céu. 

Leitor 3: Segundo o bispo italiano, Bruno Forte, “A Igreja provém da Trindade, é estruturada à imagem da Trindade e ruma para o acabamento trinitário da história. Vinda do alto (...), plasmada pelo alto e rumo ao alto (...), a Igreja não se reduz às coordenadas da história, do visível e do disponível (...), a Igreja vem da Trindade (...), a Igreja é ícone da Trindade Santa (...), a Igreja orienta-se para a Trindade, é Igreja dos peregrinos na conversão e reforma contínuas (...), em comunhão com a Igreja celeste, preparando-se desde já para a glória final”.

Todos: A Igreja não pode ser considerada um grupo de pessoas que se reúne para fazer amizade, para vencer a solidão, uma opção quando não se tem outras opções, nada para fazer. A Igreja é dom de Deus, é a assembleia convocada por Ele e, sobretudo, para esperá-Lo.


A Igreja tem cheiro da casa da gente


Leitor 2: Quando digo que a Igreja tem cheiro da casa da gente, quero dizer que a Igreja não é lugar estranho e de estranho entre estranhos. Não pode ser. Ali, na comunidade, eu me reconheço, sei da minha identidade: sou fruto do projeto de Deus (origem), sou um batizado e, enquanto O aguardo, sei da minha vocação, sal da terra e luz do mundo (missão), com aquela consciência de que estou voltando para Casa (destino). 

Todos: É em comunidade que tenho a consciência de que Eu valho o sangue precioso de Nosso Senhor. Com ele, o Senhor nos garantiu o céu, escancarou para todos a porta da eternidade, aquela que estava fechada pela desobediência de Adão e Eva.

Leitor 3: Por fim, a Igreja é sempre uma realidade viva. É um corpo vivo que tem o Cristo como cabeça, e que na força do Espírito Santo busca estar sempre atenta à voz do Pai, em cada época, a fim de responder o seu chamado, sendo capaz de atualizar-se para ser no tempo passageiro uma palavra segura, e não para mundanizar-se.

Leitor 4: É verdade que os novos tempos nos têm trazido muitos desafios, e esses geram crises e, portanto, desejo de paralisar ou voltar ao passado. Mas, é verdade também que o tempo de crise exige maturidade da nossa parte. Em tempos obscuros, a Igreja busca a maturidade que lhe é própria, levando-a à sua essência, missão e destino. Nos tempos desafiadores ela não pode prescindir da sua vocação (cf. Is 49,6): ser sinal e instrumento de salvação para todos (cf. LG 1), sal e luz (cf. Mt 5,13), fermento (cf. Mt 13,33), sendo comunidade aberta, acolhedora, solidária, curadora e educadora. Não pode fechar-se.

Todos: “Um mundo cada vez mais urbano, embora possa assustar, é, na verdade, uma porta para o Evangelho, e as comunidades cristãs precisam ter um olhar propositivo sobre essa realidade, cientes de que Deus ‘preparou uma cidade para eles’ (Hb 11,16). Ele é quem abre a porta da fé (At 14,27). Ele sempre visita a humanidade e bate à porta (Ap 3,20)” (CNBB, Doc. 109, n. 114).

Leitor 5: Segundo o Papa Francisco, “Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer Deus. Em consequência disso, se queremos crescer na vida espiritual, não podemos renunciar a ser missionários” (FRANCISCO, Evangelii gaudium, n. 272).


Tinha pouca ou muita gente?

 

Leitor 1: Um risco que se instala em nosso meio refere-se ao número de pessoas: “O encontro, a Santa Missa, a reunião, tinha muita ou poucas pessoas?”. É um risco que nos leva a perder o essencial da missão, pois esta preocupação fala de algo centrada no sucesso e/ou no fracasso, e não na experiência de fé. Deveríamos, antes, nos perguntar: “As pessoas presentes, sentiram a presença e o amor de Deus?”. Isso, porque a Igreja não é um catalizador de pessoas, mas lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo.

Leitor 2: O número suga nossas energias, nossa criatividade, nosso ânimo, compromete nosso apostolado, e por vezes nos faz mundanizar a missão, só para termos a casa cheia. Não que o senso não seja importante. A Igreja sempre planejou a sua missão contando com dados concretos, mas ele não pode estar no centro. O Espírito dá sentido à nossa vida, gera criatividade na missão, fecunda a ação e potencializa o discípulo, capacitando aos novos desafios. É o Espírito Santo que permanentemente santifica a Igreja. É o Espírito que nos ajuda a perseverar até o fim.

Todos: “Vamos perseverar no amor, na prudência, nos valores cristãos. Mas, estejamos em contínuo estado de alerta, não permitamos que o que é genuinamente humano entre em crise. Não podemos nos colocar em luta contra Deus, tão pouco contra a Igreja, que somos chamados a servir, e contra irmãos e irmãs. Além de imitar Gamaliel, nas situações de paz e de conflito, precisamos, como igreja viva, continuar a missão apostólica, com coragem e perseverança, custe o que custar, como os apóstolos, que saíram do conselho muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus ‘e cada dia’, acrescenta o livro dos Atos, ‘no templo e pelas casas não cessavam de ensinar e anunciar o evangelho de Jesus Cristo’” (Dom Francisco Biazim).


 Para refletir


Qual o nosso entendimento: a Igreja, é dom de Deus ou desejo humano?

A nossa comunidade, encontros, reuniões, celebrações, nos ajudam a esperar o Senhor, fazendo crescer em nós o desejo do Céu?

Como cristão, tenho colocado mais esperança nos dados, ou no Espírito Santo?

Para mim, a Igreja tem cheiro da casa da gente?