Dedicação da Igreja


Data da Postagem: 09 de Stembro de 2023

Estimado Padre Reginaldo, queridos padres, diáconos, religiosos, querido povo de Deus. A essência, a beleza da igreja, o povo de Deus!

Dia especial! A proposta litúrgica para uma festa de dedicação é diferente do domingo corrente. O Evangelho que ouvimos é o mesmo de domingo passado. Nós ouvimos toda a beleza da Palavra de Deus, uma tradição antiga, quando tudo nasce do gosto de Deus, que escolhe um povo preferido, um povo que apaixonadamente Deus ama e caminha com ele, um povo que quer um espaço especial, digno para se encontrar com Deus.

Hoje nós queremos dedicar esta Igreja, e para isso eu quero ficar entre o altar e o ambão, onde acontecem os grandes mistérios da revelação de Deus, a quem nós buscamos quando entramos na igreja. A Palavra é tão importante quanto o Sacrifício. E o Sacrifício é tão importante quanto a Palavra, pois eles se confundem na sua essência porque revelam o mistério de Deus que cria, e cria com amor. Por isso, nós precisamos de um espaço especial, um espaço sagrado e de muita proteção para podermos louvar a Deus pelo dom da nossa vida, a qual Ele nos dá e recolhe e bendito seja Deus. Ele nos dá a vida e Ele nos recolhe para junto de Si. Por isso, consagrar uma igreja é reconhecer o mistério mais profundo da existência humana.

Nós necessitamos de dois espaços de muita proteção para gerar vida, vida em Deus. O primeiro é o útero materno. Ninguém pode violentar uma mulher em circunstância alguma, nem quando está gerando, trazendo dentro de si alguém que não lhe pertence, pertence a Deus. Então o que está dentro dela ninguém pode tirar, somente Deus. Deus é dono, Deus é o criador, Deus permite e por isso, nós, a exemplo de Neemias, que ouviu a Palavra de Deus com emoção numa manhã toda, estejamos atentos para ouvir como Deus quer que nós nos protejamos e como nós nos cuidemos. Por isso, é importante primeiro ter proteção da origem da nossa vida, a vida que Deus dá e a vida que Deus recolhe. Quando essa vida vem à luz do mundo, ela é oficialmente consagrada pela graça do batismo, e tem um processo, vai evoluindo na consciência, à medida que nós vamos assimilando o mistério da revelação de Deus dentro de nós mesmos, e por isso nós entramos e ainda estamos; aqueles que nos acompanham pela Colmeia (Rádio), imaginem a Igreja Santa Maria Goretti sem as luzes acesas e nenhuma vela acesa, porque ainda chegaremos a este momento da luz. Já chegamos à água, à vida, a vida já existe, a vida já foi aspergida pela água do batismo, que lembra o nosso batismo, e à medida que nós vamos nos purificando, adentrando no mistério, nós queremos chegar à luz, e a luz é a consagração do visível, das cores, da beleza, da fé. Aí nós temos o segundo espaço, tão importante quanto o primeiro, do útero materno, que é a nossa igreja. Ninguém, ninguém pode violentar uma igreja. Ela não é nossa, ela é de Deus, é a casa de Deus. Não é assim que a gente diz: a casa de Deus. Se a casa de Deus é de Deus, pronto, não se discute, não se violenta, não se destrói, porque é dentro dela que nós nos sentimos seguros, protegidos, amparados, abençoados. Isso me faz até lembrar, agora, Santa Clara de Assis. Quando ela decidiu abandonar a família, o mundo, ela foi ter com Francisco porque ela quis viver a mesma experiência de fé do mistério de Deus. Ofereceram-lhe uma outra capela, juntamente com os beneditinos e a família veio para resgatá-la, levá-la de volta para casa. Veio o tio dela, porque o pai não existia mais. O tio que tinha a guarda dela. Ele veio com soldados e tentaram resgatá-la e levá-la de volta. Quando os soldados se aproximaram dela, ela tirou o véu, e quando viram que ela cortou os cabelos, em sinal de consagração, recuaram. O tio ainda forçou os soldados a arrancarem ela dali e a levá-la para casa, mas quando os soldados se aproximaram, ela se agarrou nas alfaias do Altar, nas toalhas do Altar, e quando viram isso ninguém mais tocou nela, pois reconheceram: “não somos mais nós que dominamos a Clarinha, ela agora é de Deus”. Isso tudo se deu dentro da igreja. Se fosse fora da igreja, com certeza, não seria a Santa Clara hoje. Ela precisou do espaço especialíssimo do seio da nossa fé, a igreja, porque ali nós somos banhados, somos purificados e nós participamos do Banquete. É aqui que acontece tudo. Aqui nós somos introduzidos quando nascemos; aqui nós somos purificados, nós somos perfumados pelo Óleo do Crisma; aqui nós participamos do banquete da Eucaristia, e o banquete da Eucaristia é tão significativo que nesse momento, quando você recebe a santa Hóstia na mão, na palma da mão, é como um gesto do acolhimento, você recebe Aquele que te dá, você olha, contempla,  e você pode dizer como dizia São Francisco de Assis: como pode um Deus tão grande, tão misericordioso se fazer presente em uma hóstia tão pequenina, que é o Seu corpo, o qual nós podemos comungar, fortalecer nossa fé e buscar a salvação. Contemplar o mistério de Deus, é isso que nós queremos neste espaço tão bonito, uma igreja tão significativa na nossa Arquidiocese de Maringá, e que hoje nós todos queremos participar para oficializar, de uma maneira tão solene, a dedicação, a consagração desta igreja. Queremos ungir com Óleo, ela que já foi aspergida com a água abençoada. Nós vamos aspergir agora, marcar, espalhar o Óleo para nos purificar e também para nos proteger, porque o Óleo, além da dimensão da purificação, é proteção. Sempre na história da humanidade o óleo entra como proteção. Ao cingirmos este altar com santo Óleo, daqui a pouco vocês vão ver como vai ficar, será como se estivéssemos nos protegendo, nos defendendo contra todas as contrariedades deste mundo, porque Deus nos protege, Deus nos quer bem, Deus nos quer unidos ao redor dele, para assim podermos viver aquilo que Pedro diz a Jesus, tu és o Cristo, o filho de Deus, o Deus vivo ao qual nós queremos também ao redor Dele, fazer a nossa história e, acreditamos, um dia sermos chamados para, definitivamente, vivermos no Reino do Céus.

Homilia, Dom Frei Severino Clasen

03/09/2023